Cuidados necessários para fazer bom uso de pesquisas organizacionais

Você sabe como

usar uma survey

com os

profissionais

de sua empresa?

Acompanhamentos através de pesquisas são importantes para os funcionários expressarem seus apontamentos e serem ouvidos. Dessa forma, ter pesquisas regulares pode demonstrar aos funcionários a importância de suas opiniões para a empresa. Além disso, também é uma excelente ferramenta de coleta de dados para estruturar decisões e ações organizacionais.

Para isso, o primeiro passo a considerar quando você estiver pensando em utilizar uma survey é ter em mente quais são as questões organizacionais as quais você vai avaliar com essa pesquisa. A survey precisa ter um objetivo a ser cumprido que mostre a sua necessidade para a empresa e que seja eficiente para confirmar ou descartar as suas hipóteses. Para fazer melhor proveito dessa ferramenta, garanta que você poderá investir tempo e recursos na investigação, análise e, posteriormente, na divulgação de resultados.

Outro ponto interessante sobre o uso da survey é a reflexão que ela possibilita. Quando você submete seus funcionários a um questionário, está chamando a atenção deles para assuntos que talvez antes eles não parassem para refletir naturalmente. Alguns estudos¹ ² ³ indicam que apenas perguntar sobre determinado assunto pode ser uma maneira de conduzir ao comportamento desejado. Nessa pesquisa, perguntar se as pessoas gostariam de fazer três horas de voluntariado na American Cancer Society foi o suficiente para as taxas de voluntariado aumentarem de 4% para 31%. Dessa forma, responder “sim” para a questão também pode criar um compromisso onde sentem-se responsáveis por seguir o indicado. Até mesmo aquelas pessoas que respondem “não” ainda estão propensas a mudarem de opinião, visto que a questão gerou uma reflexão.

Mas, para isso, alguns cuidados devem ser levantados para a criação de uma survey, visto que falhas podem nos levar a gastar energia, tempo e recursos nos problemas errados. Ao fazer uso dos questionários, muitas vezes você encontrará alguns obstáculos que distorcem os resultados. O primeiro a ser destacado é o viés de desejabilidade social. Isso ocorre quando os funcionários, ao responderem a pesquisa, vão adequar as respostas para aquilo que eles acreditam ser o desejado e o esperado, através de uma “luz positiva” para causar boa impressão. Uma das consequências disso é a dificuldade de encontrar o cerne do problema, já que as respostas são camufladas com o objetivo de causar uma boa imagem para o seu líder. 

Outro obstáculo psicológico é o viés de aquiescência, no qual diante de uma pergunta que não se sabe sobre ou quando nenhuma das respostas disponíveis se encaixam, há a tendência de apenas concordar com a afirmação. Imagine este cenário no qual a questão mede se as opiniões sobre determinado setor são positivas: aqueles que não tiveram acesso ao setor e não tiveram a oportunidade de conhecê-los vão apenas confirmar ou buscar uma resposta neutra. Isso gera complicações na precisão da análise da pesquisa e não dará informações significativas. Além de que, a existência de perguntas que os profissionais não sabem responder pode confundi-los ou fazer com que sintam-se desinformados, devendo ser evitadas. Mas se mesmo assim houver necessidade, certifique-se de ter opções de respostas para esses casos, como “outro”, “não sei” ou “NA”.

Além disso, deslizes na estrutura da pesquisa podem impactar na validade dos resultados. Isso acontece quando uma mesma questão contém duas afirmações com dois temas diferentes, sem relação entre si. Como, por exemplo, a questão: “estou satisfeito com as minhas atividades diárias e sabemos como desempenhar um bom trabalho em equipe” são duas afirmações diferentes, com temas diferentes. Dessa forma, a melhor maneira de conseguir avaliar ambos os assuntos é separar as questões para dar a oportunidade ao respondente medir cada item.

Portanto, ao elaborar as questões da pesquisa, certifique-se sobre o assunto de cada pergunta e qual o objetivo da mesma, visto que as perguntas precisam ser claras e objetivas para todos aqueles que forem responder. Dessa forma, usar uma linguagem clara e simples ajudará na compreensão das questões, principalmente se o profissional que for responder a survey não for nativo da sua língua. Também, caso seja necessário, explique o conceito daquilo que você quer avaliar com o uso de parênteses, como no caso de bem estar geral (definido como saúde emocional, física e financeira). Mas se ainda assim estiver em dúvida sobre alguma questão, vale a pena pedir a revisão de um colega para verificar se está facilmente compreensível para qualquer pessoa. 

Ainda, se você for utilizar uma escala likert na sua pesquisa, como: discordo totalmente, discordo, neutro, concordo e concordo totalmente, assegure que essa classificação se manterá a mesma do início ao fim da pesquisa. Ou seja, se 1 for negativo e 5 for algo positivo, mantenha esse parâmetro durante toda a pesquisa para facilitar a compreensão. Com esses cuidados, perguntas com respostas objetivas — como no caso da escala likert — são mais indicadas do que perguntas com campos abertos, já que essas exigem muito tempo do profissional que irá responder e por conseguinte, daquele que irá analisar as respostas. 

A última dica: teste a sua pesquisa. Para isso, quando a survey já estiver concluída, peça para seus colegas responderem. Isso ajuda na última revisão de perguntas e também para verificar se todas as questões e respostas fazem sentido. Além disso, outra vantagem, é que você saberá o tempo médio que a survey leva para ser finalizada (essa informação é importante para já estar no convite da pesquisa para o profissional saber quanto tempo reservar para a sua pesquisa).

Por fim, também devemos ser cuidadosos com as expectativas que criamos com a survey, principalmente se forem sobre assuntos de pretensão salarial e cortes de custo, visto que isso pode criar expectativas irrealistas ou tensões no ambiente. Por isso, sempre dê informações suficientes para os funcionários de sua empresa entenderem o porquê da survey e a importância da participação deles, mas garanta um ambiente de liberdade, clareza e segurança psicológica para oportunizá-los de responder as questões com honestidade. Não torne a participação na survey como mais uma obrigação na rotina de trabalho. A participação voluntária vai cooperar para a qualidade das respostas e a taxa de participação já pode ser vista como um feedback, podendo demonstrar sinais sobre o nível de engajamento estudado já que a falta de informações, por si só, também pode ser entendida como uma informação.

LUANA ROCHA DE OLIVEIRA

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