Uma forma de

enxergar os

recursos humanos

para além das

relações formais

As relações sociais entre pessoas surgem e se desenvolvem em todas as esferas da vida, inclusive no trabalho. Neste âmbito, as estruturas formais, como organogramas, fornecem as orientações para os gestores na alocação de pessoas para a execução de projetos. Assim, as relações informais são, muitas vezes, subutilizadas e subestimadas quando não deveriam. Conhecer as relações interpessoais e sociais existentes entre os colaboradores de uma organização pode ser um diferencial importante e estratégico para a proposição de ações e execução de tarefas de forma mais eficiente.

No contexto da administração de empresas, a estrutura organizacional descreve como ocorre alocação e a relação formal das pessoas para que os resultados desejados sejam atingidos. Em geral, para facilitar a gestão interna de uma companhia, são estabelecidos níveis hierárquicos, com esclarecimento de funções, responsabilidades, autoridades e caminhos de comunicação entre pessoas. A partir dessa estrutura formalizada, gestores podem conhecer melhor os recursos disponíveis (humanos, financeiros e técnicos), decidir com mais assertividade como estes deveriam ser alocados e identificar o que estaria em falta. A forma mais usual de se representar essa rede hierarquizada é o organograma. A Figura 1 ilustra, esquematicamente, o organograma de uma empresa de produção mineral.

Figura1: Representação simplificada de um organograma de empresa fictícia. Fonte: adaptado de https://www.robcross.org/research/what-is-ona/.

Com o advento das tecnologias de informação e comunicação, as trocas informais entre colaboradores são intensificadas podendo, inclusive, ser registradas e mapeadas. Assim, a evolução tecnológica adentra as corporações. A agilidade e as capacidades de registro e de armazenamento de informações, intrínsecos ao mundo digital, começam a se tornar peça integrante das relações interpessoais, resultando em contrapontos que questionam as estruturas burocráticas formalizadas em organogramas, por exemplo.

Neste sentido, para um gestor que deseja conhecer com profundidade os recursos humanos, financeiros e técnicos disponíveis, seja para implementar estratégias de melhoria de gestão ou para desenvolver qualquer projeto, a análise exclusiva da estrutura hierárquica formal da sua organização se torna insuficiente. À formalidade faltam informações das relações interpessoais reais e, sem o conhecimento dessas, é muito difícil maximizar o aproveitamento das interações orgânicas entre colaboradores. Conhecer e conseguir utilizar as conexões informais são tópicos estratégicos para se acelerar a execução dos objetivos com a máxima qualidade e o mínimo de desperdícios. 

Com isso, podemos destacar a importância de se conhecer e mapear, não apenas  as redes formais, mas especialmente, as redes informais entre os colaboradores de uma organização. Tais redes informais decorrem da sociabilidade e das relações sociais que surgem de interações e conversas, muitas vezes, não oficiais e imprevisíveis. Esses laços sociais tendem a ser mais naturais, horizontais, adaptativos e baseados em afinidades, sem qualquer rigidez, obrigatoriedade ou autoridade entre as partes. Uma das formas de se identificar essas redes é a Análise de Redes Organizacionais (ONA, Organizational Network Analysis), metodologia para analisar laços de colaboração, fluxos informativos, relacionamentos pessoais e práticas de orientações que permeiam a organização, conforme proposto por Grassi e colaboradores (2009).

Um projeto de análise de redes organizacionais, quando bem conduzido e executado, permite obter fotografias das relações, em termos de comunicação, de trocas de conhecimentos e de colaboração, formais e informais, entre pessoas e times de uma organização. Uma consideração extremamente importante a se fazer antes de implementar qualquer projeto de análise de redes organizacionais é a observação da Lei Geral de Proteção de Dados e a utilização ética de todos os dados pessoais coletados em projetos dessa ordem. Para tanto, é essencial manter um diálogo bastante aberto com todos os colaboradores, apresentar com clareza os objetivos da análise, justificar as razões para tal coleta de dados, e abrir um canal direto para esclarecimento de quaisquer dúvidas ou questionamentos.

Partindo da coleta e do tratamento de dados que carregam informações das interações entre os pares e as partes de uma organização, podem-se desenvolver análises e modelos de visualização das conexões entre pessoas. Possíveis ganhos de conhecimento nesse processo são identificação de oportunidades de melhoria de desempenho, de aumento de produtividade, de melhora da experiência e do bem estar dos funcionários, além de compreender mais profundamente as relações e interações que podem afetar o desempenho de indivíduos e de grupos.

A rede montada a partir de dados das relações interpessoais é formada por categorias de pessoas (ou times) e por tipos de conexões. Pessoas que compartilham muitas informações com muitas outras pessoas e que são vistas como referências por isso, são reconhecidas como nós centrais. Pessoas que divulgam informações entre seus pares são identificadas como nós mediadores de conhecimento. E pessoas com poucas conexões são identificadas como nós periféricos. Os laços entre indivíduos são os conjuntos de relações formais e informais existentes na prática e podem ser unidirecionais, quando a troca ocorre sempre na mesma direção , ou bidirecional, quando a troca é mútua. 

A identificação e a visualização de nós e laços permitem compreender a situação real dos papéis, especialmente informais, desempenhados pelas pessoas. Desta forma, torna-se possível reconhecer conexões críticas, potenciais barreiras e gargalos para o fluxo de informações e colaborações, bem como ligações estratégicas e prósperas. Tais percepções não seriam possíveis de serem apontadas por organogramas formais, por exemplo.

Figura 2: Representação esquemática de um rede organizacional, considerando os mesmos personagens da Figura 1. Roxo se refere à vice presidência, vermelho à exploração, laranja à mineração e azul à produção. Fonte: adaptado de https://www.robcross.org/research/what-is-ona/.

A Figura 2 exemplifica o resultado da ONA para a mesma organização apresentada na Figura 1. Comparando as representações apresentadas nas Figuras 1 e 2, pode-se identificar que as pessoas-chave para o fluxo de informações nem sempre são os gestores em posições hierárquicas mais altas. No caso desse exemplo, observa-se que Laura desempenha um papel fundamental para a ligação entre pessoas e equipes, sendo um ponto crítico pois é a única ponte de conexão do setor de produção com os demais setores. 

Casos como o ilustrado por Laura demandam bastante atenção e, de modo geral, alguma mudança, já que provavelmente existe uma sobrecarga de informações e demandas sobre uma única pessoa e uma dependência extrema das atitudes dessa pessoa para o bom funcionamento de toda a organização. Um outro caso interessante de se observar é o da Joana, que ocupa o cargo formal mais elevado, entretanto desempenha um papel periférico quando se observa a rede. Isso, possivelmente, revela uma tendência de distanciamento entre cargos administrativos mais elevados e as atividades produtivas do dia a dia, o que pode comprometer a agilidade na tomada de decisões ou causar divergências e atrasos quando necessário implementação de inovações, por exemplo.

Outro ponto a se destacar são os papéis periféricos, no exemplo desempenhados por Moisés e Tiago, que são figuras mais distantes dos fluxos de informações e colaborações o que pode levar a uma série que questões que vão desde engajamento, no sentido de se sentir parte do todo, a gestão de conhecimento e compartilhamento de experiências, especialmente nos casos em que estas pessoas desempenham funções técnicas e altamente especializadas. Por fim, cabe observar que o setor de produção, por algum motivo, se encontra afastado dos demais, sendo conectado por apenas uma pessoa central. Isso pode significar um gargalo importante, especialmente, na tomada de decisões ágeis e que necessitem da interação entre setores

A visualização da organização de forma mais próxima à realidade pode aumentar o desempenho operacional a partir da alocação (ou realocação) mais eficiente dos colaboradores, atribuindo funções e cargos no quais pode-se maximizar a participação e a colaboração individual e coletiva. (DELOITTE HC. Organizational network analysis: Gain insight, drive smart. Disponível aqui.)

É possível observar, inclusive pelas Figuras 1 e 2, que nem sempre os líderes da hierarquia formal são as pessoas mais influentes. A identificação de pessoas centrais, com grande número de conexões, pode contribuir para o estabelecimento de estratégias mais eficientes para proposição de mudanças, aceitação e realização de transformações e melhorias em termos de prática e cultura, principalmente.

Observando as relações de pessoas centrais e periféricas e de seus padrões de comunicação, é possível propor ideias que se conjugam com outras análises típicas de recursos humanos. A partir da combinação de ferramentas que aprofundam a compreensão do quadro de pessoal  é possível construir hipóteses com embasamentos mais confiáveis sobre engajamento e tendências de comportamento de colaboradores, identificando possíveis sobrecargas, desmotivações e comportamentos indesejados.

Além disso, os fluxos de informações, conhecimentos e colaborações podem ser otimizados a partir da identificação de canais de comunicação informais, o que pode potencializar a execução de tarefas e gerar redução de desperdícios de tempo e de recursos. Para organizações menos hierarquizadas, a ONA torna-se fundamental para análise dos fluxos de informações e, consequentemente, para melhoria contínua das formas de coordenação e comunicação entre pessoas e times. Em casos de fusões e aquisições, a ONA pode contribuir ainda na identificação de papéis redundantes e de lacunas e, assim, redirecionar pessoas de forma consciente para que o conjunto gere o máximo valor possível.

Em resumo, a análise de redes organizacionais traz aprofundamentos, especialmente, em termos de consciência e reconhecimento das conexões dos recursos humanos, podendo gerar uma série de possibilidades para melhoria do funcionamento desse recurso tão valioso. A ONA permite visualizar a união entre capital humano, que envolve características e habilidades associadas ao desempenho de colaboradores, e capital social, que engloba precisamente as redes e relações criadas pelos próprios colaboradores para que as tarefas sejam efetivamente executadas.

ANA BELISÁRIO

Quer ajuda para fazer uma análise de redes organizacionais na sua empresa? Entre em contato com nosso time de consultoria.

AV ÁGUA VERDE  1413, CURITIBA   |   RUA ALAGOAS, 1460 , BELO HORIZONTE

plugins premium WordPress