Os aviões, os buracos e os reforços
Como os aviões
sobreviventes
podem nos ensinar
sobre vieses
Algumas conclusões nos parecem bem óbvias à primeira vista, mas iremos mostrar que muitas vezes essas soluções podem estar enviesadas. Neste nudge, abordaremos um viés específico, o viés da sobrevivência, e como ele pode influenciar grande parte de nossas decisões.
Durante a 2ª guerra mundial aviões bombardeiros da marinha inglesa estavam sofrendo muitas baixas. Isso significava, além de perder recursos mais do que o previsto, perder a batalha. Portanto, iniciaram rapidamente um projeto para entender os motivos estruturais pelos quais os aviões estavam caindo tanto e estabeleceram um objetivo: reforçar as aeronaves nos locais mais críticos, visto que não era possível reforçá-las por inteiro dadas as questões técnicas, principalmente o peso final.
Todos os aviões que retornaram das batalhas foram minuciosamente avaliados e os dados dos tiros sofridos no combate foram registrados. A primeira vista percebe-se que os aviões sofreram tiros em praticamente todas as partes.
Com um olhar um pouco mais detalhado conseguimos ver que existe um padrão nos aviões que retornam, algumas áreas que sofrem mais tiros.
Nesse momento é fácil pular para uma conclusão e aconselhar que as placas de reforço sejam colocadas nos locais onde os aviões estão com mais tiros. Certo? Foi exatamente o que estavam fazendo na época.
Até que Abraham Wald, matemático húngaro que participava da equipe do projeto, mostrou que a análise estava enviesada e que dados importantes não estavam sendo considerados: E os aviões que não voltam?
Com essa pergunta em mente observe novamente as imagens acima.
Mudando a maneira de enxergar esse problema fica claro que o reforço deveria ser feito nos locais que recebiam menos tiros, pois são exatamente as aeronaves que sobreviveram aos ataques que estamos observando. Ou seja, quando os aviões eram atingidos nessas áreas eles não retornavam das batalhas e, portanto, tinham sido abatidos.
Propor uma solução baseada em apenas parte das pessoas ou observações nos leva a conclusões enviesadas. Esse viés específico é o viés de sobrevivência, que é um tipo de viés de seleção. Ele consiste no erro lógico de nos concentrarmos em coisas ou pessoas que sobreviveram a algum processo enquanto ignoramos aqueles que foram eliminados devido a sua falta de visibilidade.
No caso dos aviões britânicos os dados sobreviventes são exatamente os aviões que retornavam do campo de batalha. No nosso dia a dia costumamos selecionar dados, pessoas e situações que na prática são “sobreviventes”.
Analisando problemas organizacionais temos cenários parecidos: Evasão de colaboradores por exemplo. É comum justificarmos a saída de colaboradores olhando unicamente as características dos que saíram.
Se um grupo grande de funcionários de alta performance e salário equivalente a mediana de mercado saiu da organização, nossa justificativa para a saída certamente será a de que o salário estava baixo demais para reter essas pessoas de alta performance. Mas se olharmos não só para as pessoas que saíram, podemos perceber que várias das pessoas que ficaram na organização tinham a mesma característica, por exemplo salário na mediana de mercado e alta performance. Nesse contexto, será que foi o salário a principal fator que motivou a saída?
Essa é uma das maneiras mais comuns que acabamos não percebendo o quão enviesadas estão as nossas análises e conclusões.
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JULIA VASCONCELOS
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